Duas tacas de champanhe

Douglas era o único funcionário de uma pequena agência publicitária e havia sido contratado há bem pouco tempo. Sem ter o que fazer, especialmente quando o seu chefe estava visitando clientes, o rapaz de três e cinco anos de idade não fazia muito mais do que ouvir música e rabiscar folhas de papel, geralmente ensaiando os traços do corpo da namorada de quem nem gostava tanto, já que a conhecia desde a infância. Como os últimos dias se alternavam entre pouco ensolarados e muito chuvosos, ele dividia o tempo ocioso com constantes idas a uma das duas janelas do escritório que ficava no terceiro andar de um edifício comercial próximo ao centro da cidade. Quando a chuva e a névoa permitiam, Douglas tinha uma vista privilegiada das casas que ficavam nas imediações. Em uma das poucas vezes que o sol apareceu, o funcionário solitário avistou uma ruiva andando cabisbaixa em volta da piscina de uma mansão que ficava perto do edifício, o que chamou a sua atenção. Sozinha, ela agia de forma estranha e parecia muito pensativa. Embora ela tivesse desaparecido entre algumas árvores, talvez se escondendo do voyeur calado, a paixão à primeira vista fez com que Douglas não conseguisse mais se concentrar no pouco trabalho que tinha, restando-lhe apenas acompanhar os passos da enigmática Caroline. Ao menos daquela distância, a jovem de vinte e dois anos de idade dava a impressão de estar proibida de sair das dependências da casa, já que os seus movimentos se limitavam a aparecer na janela que deveria ser o seu quarto e andar pelo vasto terreno. Com o passar dos dias, a agonia do rapaz se transformou em obsessão. Contudo, o seu sentimento não demorou muito para virar delírio em um mais um dos poucos momentos em que o sol iluminava o bairro. Do alto da sua janela, ele via perplexo a sua musa de cabelos compridos tirar o biquíni como se soubesse que estava sendo observada e, pouco depois, mergulhar completamente nua na enorme piscina. O primeiro encontro entre os dois jovens comprometidos com outras pessoas aconteceu no quarto de um motel alguns dias depois que os olhares já eram habituais, o que os levou a um romance tão rápido quanto tórrido. Porém, havia muitos outros fatores envolvidos e que deveriam ser superados. Se duas taças de champanhe poderiam mantê-los juntos, antes Douglas e Caroline precisariam vencer uma barreira bem maior para que o seu amor pudesse resistir ao tempo.